A Biblioteca Reitor Fernando Leite realizou, no último dia 17 de agosto, um encontro literário com o escritor carioca Anderson Fonseca. O mesmo ministrou palestra sobre "O escritor pós-moderno" e aproveitou para divulgar o seu mais novo trabalho literário “Notas de pensamentos incomuns”. O evento literário foi organizado pela Coordenação da Biblioteca, tendo a frente Glauber Lucena Oliveira e contou com a participação de estudantes, professores e escritores locais.
Segue texto do escritor sobre o tema da palestra:
O escritor pós-moderno
Este é um tema que escolhi por se referir as transformações que a literatura e o oficio de escritor sofreram com o advento da tecnologia da informação e da internet.
Falar de pós-modernidade em literatura é, portanto, um tema complexo, pois ainda não há como definir a literatura atual no Brasil e no mundo em um contexto crítico. Por enquanto só podemos esperar que o tempo e a próxima geração julguem com sabedoria e nos apresente, definindo que tipo de literatura se formou nestas décadas iniciais do século XXI. Até o momento somos apenas espectadores da nova literatura. Como espectadores, somos incapazes de definir o que ela é, apenas nos é dado o poder de observar, admirar, recriminar ou ignorar o que está acontecendo. Esta literatura ainda em estado infanto, não pode ser avaliada, apenas acompanhado seu crescimento sob um olhar de paciência sem pré-conceitos. Cabe a crítica literária, portanto, nos dizer que literatura é esta, porém, até mesmo a crítica atual encontra-se impotente, ou no melhor dos termos, cega.
Mas o que me levou a este tema, é a pergunta: o que é o escritor pós-moderno?
O escritor pós-moderno é o escritor remanescente da era digital, que soube se utilizar dos meios de comunicação e das novas linguagens tecnológicas.
O escritor pós-moderno surge no advento da internet convertido a essa linguagem e a transformando em um meio para manifestação de sua arte.
Assim, quando se fala em escritor pós-moderno, estamos também falando em novas tecnologias fornecidas pela era digital que revolucionaram centenas de anos em que estivemos limitados ao papel, fala-se então em:
ü Blogs: diários eletrônicos onde se posta textos diariamente fornecendo maior informação com liberdade ideológica e criativa. Há muitos escritores brasileiros hoje que possuem blogs, a exemplo cito: Ana Paula Maia (RJ), Marcelino Freire (PE), Cláudio Portela (CE), Jorge Pieiro (CE), Mariel Reis (RJ), Santiago Nazarian (SP), etc.
ü Twitter: Uma versão miniaturizada do blog, conhecido como microblog. O Twitter, também é uma ferramenta muito utilizada por escritores, e mudou radicalmente a forma de pensar a escrita. Surge dela invenções muito criativas para gêneros literários feitos por escritores brasileiros como Fabrício Carpinejar que criou, e posteriormente lançou poemas escritos via Twitter, ou Marcelino Freire que acabou por criar o microconto (contos e poemas de apenas 120 caracteres).
ü Revistas Eletrônicas & Publish News: Outro meio de divulgação de novos escritores e que vêm alimentando a discussão crítica em torno da nova literatura brasileira e latino-americana são as revistas eletrônicas. Concorrendo com os jornais e revistas impressas, as revistas eletrônicas têm alcançado maior número de leitores: 1º por ser gratuito; 2º por ser democrático. Nestas revistas surgem escritores que tem se destacado na literatura nacional e regional. Cito algumas das revistas mais importantes do meio: Cronópios, Confraria, Germina Literatura, Celuzlose, Aliás, Portal Literal, Musa Rara, Caos Portátil e Zunái.
Acrescento que nesta era de revistas eletrônicas alguns jornais e revistas impressas, também se destacam, porém, antes, como advindas de experiências em publicação digital (Publish News), cito: Jornal Rascunho, O Casulo, Coyote, Polichinelo.
ü Redes sociais: As redes sociais são a última desta escala, por ser mais recente, entretanto, são elas geradoras de grupos que se ligam por ter em comum a literatura ou por ser um meio de divulgar trabalhos.
O Livro na era pós-moderna: O e-book.
Desde Guttenberg, o livro impresso em papel tem sido o motor da sociedade moderna na transmissão de ideias e valores. Após o surgimento do computador, imaginou-se que seria o fim do uso do papel, porém, enganamo-nos; o papel continuou a ser utilizado, e mais ainda do que antes (de certo modo, a internet substituiu o papel em suas funções de transmissão de ideias, liberdade ideológica, e, constituição da democracia). Somente agora o papel esta no seu fim. Inaugurou-se ainda no inicio deste século XXI, principalmente pela empresa Amazon, o e-book, ou livro digital.
Em 2007, a Amazon criou o Kindle, um computador portátil que tem como função principal ler livros electrônicos e outros tipos de midia digital. Baseado no uso de moléculas de carbono, o Kindle, possibilita o fim do papel, você pode ler um livro no Kindle, como se lesse um livro impresso em papel, folheando as páginas, tamanha a façanha da imitação. Porém a diferença é que no Kindle, você baixa o livro da internet gratuitamente, ou pagando centavos através de empresas de venda de e-books como a própria Amazon.com. No Kindle, por exemplo, é possível armazenar em sua memória até 1.500 livros. Futuramente, segundo o Ministério da Educação, cada aluno de escola pública do Brasil terá seu Kindle. Derivado do Kindle, criou-se o Kindle 2 e o Kindle DX. A função do Kindle 2, é interessante, sobretudo, para pessoas com deficiência visual, pois o Kindle 2 pode transformar textos escritos em textos falados, assim, uma pessoa com deficiência visual pode baixar e escutar o livro que desejar em sua própria língua. Por sua vez, o Kindle DX, tem apenas o diferencial de poder armazenar 3.500 livros.
O surgimento do e-book para o escritor é um presente, pois este pôde a partir disto, romper com sistemas mercadológicos, ao disponibilizar gratuitamente seu livro aos leitores, por meio da internet.
Sites como o issuu.com, possibilitam ao escritor criar seu e-book, disponibilizando de forma gratuita seu material a qualquer internauta interessado em conhecer sua obra.
O futuro do escritor:
Acredito que a internet deu ao escritor um papel ainda mais fundamental na sociedade. Hoje, devido à internet e as novas tecnologias da informação, o escritor desempenha papel central na opinião pública, como também exerce com maior liberdade criativa sua arte. Todavia, a internet também proporcionou pontos negativos ao escritor, haja vista que ela lhe dá 15 minutos de fama, – como havia dito Andy Warhol ao profetizar nosso tempo –, isto é, o escritor que hoje surge na era digital amanhã pode ser mais uma relíquia arqueológica da rede virtual, entre tantos milhares de outros. Após o surgimento da internet a quantidade de escritores é excessiva, e, há impossibilidade de encontrar, entre tantos, alguém que represente essa geração, por isto, o papel ainda é o preferido de editores, pois por ele, acha-se um diamante da era. Ainda assim, posso afirmar, avaliando nosso tempo, que este século é o século dos escritores, pois nunca se produziu tanto quanto em nossa época, nunca se escreveu tanto; jamais em outra época houve um exercício livre da arte como hoje, e isto, graças à informática.
Como ainda não surgiu nenhum computador com inteligência artificial capaz de produzir um livro, um poema, ou uma boa estória, pode-se dizer que os escritores irão continuar a trabalhar, e, por sua vez, a alimentar a alma de muitos e a influenciar a de tantos outros a se tornarem também escritores.
Anderson Fonseca
Brejo Santo –CE, 17/08/2011
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